O decreto do ministro Afonso Costa que em 1911 retirou à Igreja Católica a missão que assegurava desde 1546, de proceder ao registo de todos os nascimentos, casamentos e óbitos dos cidadãos portugueses, impunha à Igreja, a entrega ao Estado Português de todo esse património arquivístico acumulado ao longo de 5 séculos.

Com maior ou menor relutância pelo que considerava um esbulho do seu património, essa determinação foi em regra  cumprida pela Igreja com raras excepções. De facto, párocos houve que se recusaram a acatar a ordem e mantiveram ciosamente os seus cartórios.

A Sertã é um desses casos. Até há pouco tempo, para a maioria dos investigadores, estava definitivamente assente a ideia que os livros se teriam perdido irremediavelmente, certamente pelos mesmos motivos que afectaram várias outras paróquias da região: a fúria destruidora das invasões francesas que nas suas três incursões no nosso país entre 1808 e 1811, privilegiavam invariavelmente a destruição das igrejas e, consequentemente, dos seus cartórios.

Não! Os livros existem, estão muito bem preservados e cuidadosamente guardados no cartório da Igreja paroquial da Sertã. É só por si, para quem investiga, uma excelente notícia.

Melhor notícia ainda é que, resultado de um acordo estabelecido entre a Igreja e o Arquivo Distrital de Castelo Branco, estes livros irão ser digitalizados e colocados "on line" à disposição dos investigadores ao abrigo do projecto Digitarq, permitindo com isto o fácil acesso através da internet. A pandemia da covid-19 também aqui deixou consequências e atrasou o processo. Mas é apenas uma questão de tempo. Vamos continuando atentos e não deixaremos de completar esta revelação logo que o processo chegar ao seu resultado final.

13 fevereiro 2022