A tecnologia que permite reconhecer caracteres – texto impresso - a partir de uma imagem e convertê-los em texto – comumente conhecida por OCR (Optical Character Recognition) surgiu pela mão da IBM nos anos 50 do século passado e, nos dias de hoje, está acessível a todos através de inúmeros “software” gratuitos disponíveis na internet.

Para os investigadores, o reconhecimento de textos manuscritos passou desde então a constituir um sonho que parecia irrealizável pela complexidade da interpretação de caligrafias que variam com as latitudes e com as épocas. Mas, definitivamente, o limite da Ciência é o limite da nossa imaginação e há já alguns anos que a Igreja Mormon prometia converter esse sonho em realidade. E finalmente cumpriu a promessa!

A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, vulgo Mormon, com sede em Utah, nos Estados Unidos, é a maior instituição genealógica do mundo e a ela devem muitos países do mundo – Portugal incluído – a tarefa ciclópica de fotografar todas as páginas de todos os livros paroquiais e convertê-las em microfilme que, com a chegada da era digital, foram convertidos nas imagens que todos conhecem nas suas investigações nos sites dos nossos arquivos.

Como nos explicou Virgínio Baptista, Experience Manager, representante da FamilySearch para o sul da Europa, o reconhecimento de caligrafia que têm desenvolvido está baseado em inteligência artificial que, por um lado, aprende a ler os documentos e por outro, extrai os dados que interessam para a pesquisa genealógica, como nomes, datas e lugares que, depois, permitem realizar as pesquisas.

A máquina é treinada para ler determinados tipos de documentos e até para fazer ajustes a mudanças na caligrafia que, num mesmo livro, pode conter a escrita de um, dois ou mais sacerdotes e no próprio estilo do documento (completamente manuscrito, misturado com caligrafia pessoal em formulário impresso, etc., etc.) . Uma vez treinada - o que requer tempo e milhares e até mesmo milhões de textos para aprender - consegue numa noite fazer o que um ser humano preparado demoraria 25 anos a fazer.

Todo este esforço de investigação tecnológica resulta desta realidade a que chegaram: ao ritmo que seguiam com a colaboração dos voluntários humanos de que dispunham, estimavam precisar de quatro séculos e meio só para os documentos que tinham digitalizado, não incluindo os que todos os anos se incorporam.

Resta-nos agora esperar pelo dia em que a Igreja Mormon, com a mesma generosidade com que fotografou os livros sem custos para os países por onde andou, nos facilite o acesso on line a esta tão extraordinário avanço tecnológico!

01 janeiro 2024